quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

MAGIA, Henri Michaux



MAGIA, Henri Michaux

I

Antigamente eu era muito nervoso. Agora estou num novo caminho:

Coloco uma maçã em cima da mesa. Depois me coloco dentro da maçã. Que tranquilidade!

Isso parece simples. Entretanto, havia vinte anos que tentava; e não teria conseguido, querendo começar por ali. Por que não? Talvez me sentisse humilhado em virtude de seu tamanho diminuto e de sua vida opaca e lenta. É provável. Os pensamentos da camada inferior raramente são belos.

Então comecei de outra forma e me uni ao Escalda.

Em Anvers, onde eu o encontrava, o Escalda é largo e importante e movimenta um grande fluxo. Ele recebe os navios de alto bordo que se aproximam. É um rio, um verdadeiro rio.

Decidi unir-me a ele. Permanecia no cais o dia inteiro. Mas eu me dispersava em numerosas e inúteis perspectivas.

E depois, à minha revelia, olhava as mulheres de vez em quando, e isso não condiz com um rio, nem com uma maçã, nem com nada na natureza.

Então o Escalda e mil sensações. O que fazer? Subitamente, tendo renunciado a tudo, encontrei-me..., não direi em seu lugar, pois, na verdade, nunca foi exatamente assim. Ele corre incessantemente (eis uma grande dificuldade) e desliza em direção à Holanda onde encontrará o mar e a altitude zero.

Retorno à maçã. Lá, novamente, houve tateios, experiências; é uma longa história. Partir é pouco cômodo, assim como falar sobre isso.

Mas, em uma palavra, posso dizer-lhes. Sofrer é a palavra.

Quando cheguei à maçã, estava congelado.


II



Assim que a vi, desejei-a.

De início, para seduzi-la, disseminei planícies e planícies. Planícies saídas do meu olhar estendiam-se doces, amáveis, reconfortantes.

As idéias de planície foram ao encontro dela e, sem o saber, ela as percorria, sentindo-se satisfeita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário